segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

APRESENTAÇÃO

Cora Coralina fez de sua ligação com o mundo um motivo a ser poetizado. E o que seria mais suscetível a ser poetizado do que a nossa própria vida? Cora celebra esse devir existencial e enxerga os privilégios de se ter uma vida difícil. É com os marginalizados, os humildes e destituídos de sua honra que ela faz crescer a dignidade. Essa consciência humana é o combustível de sua força poética que nos toca pela simplicidade e nos revela o prosaico, o rústico que nos habita mesmo em tempos atuais. Com essa centelha humana, tão escassa e apagada no cotidiano atual, ainda somos capazes de nos identificar.


Cora Coralina deu profundidade a muitas vozes, muitas vidas. Nasceu Aninha, e foi com este nome que delineou suas memórias em forma poética. O universo de personagens que a circundavam parece carregar o cheiro do campo, de um mundo rural cada vez mais distante. Mas ainda assim, esse Brasil interior nos parece vizinho. As engrenagens da infância, as nuances do ambiente familiar, as armadilhas da convivência social. Tudo isso serve de gancho para a representação de uma vida que parece limitada, porém, trata-se de uma vida feita e transformada em evento especial, único.


Cora Coralina. Menina, moça, dona de casa, mãe, sertaneja, cozinheira, doceira. Mulher. É por meio dessa sensibilidade aguçada que ela enfrentou preconceitos que exigiam a submissão. Os padrões inflexíveis foram transcendidos pela poetisa, que vivenciou tudo muito além das experiências em si, suplantando assim, as amarguras e rancores, colhendo por meio da compaixão e da compreensão a sabedoria de saber viver a vida.

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